X Milhas do Guadiana – 2012

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Começo por falar do dorsal. Um número bonito. Mesmo que tivesse feito a corrida a fazer o pino, seria sempre o 69. Está feita. Dados oficiais: 17,5Km em 01:31:11, para um ritmo médio de 5:13min/Km, 451º da geral entre 601 corredores (55 mulheres, 546 homens). Para quem passou a semana anterior sem treinar – a lutar contra tosse, ranho, espirros e má disposição geral – para quem apenas fez 10Km dois dias antes e não ficou convencido de ser capaz de fazer mais 7Km, para quem disse à mulher que iria levar o telemóvel para o caso de ter de desistir e assim poder pedir que o fosse buscar onde tivesse parado, para quem duvida demasiado de si próprio e faz filmes de tudo e de nada, para quem corre só a pensar em lesões … não foi mau, aliás, foi sim uma agradável surpresa.

Poderei ainda vir a participar em muitas provas, mas esta, será sempre a favorita. Além de ter sido a prova onde fiz a minha estreia nas corridas, em 2001, soma-se a particularidade de começar e acabar em países diferentes e a aliciante de poder percorrer uma ponte internacional que, nos restantes dias, está vedada à passagem de peões e bicicletas. Além dos que a atravessam a correr, somam-se mais alguns que aproveitam a oportunidade para a percorrer a pedalar.

As semelhanças com a prova de 2011? Talvez apenas o facto de estar sol, muito vento e algum frio. As principais diferenças? Estava muito mais vento, muito mais frio, a partida era em Ayamonte e a chegada em VRSA. Não ter chovido já foi muito bom, mas ter de enfrentar aquela ventania desgraçada não foi fácil, sobretudo em cima da ponte que atravessa o Guadiana. Antes da partida reparava em todos aqueles que correm com uma única camisola de alças. Valentes.

O meu equipamento: ténis New Balance (não sei o modelo, mas sei que estavam promoção na Decathlon e que foram uma grande compra. Além disso, são os únicos que tenho com maior amortecimento, factor fundamental quando se enfrentam muitos Kms a bater com os pés no chão); meias de compressão da Decathlon (excelentes. Há melhores, mas aquelas, pelo preço que custaram e pelo conforto que dão aos gémeos, considero-as uma maravilha); calções elásticos da Sport Zone; camisola interior da Decathlon (mais uma excelente compra que fiz o ano passado. Bem justa ao corpo, mesmo encharcada em suor, continua a transmitir calor e a cortar o vento); camisola exterior da Decathlon (a mesma com que corri o ano passado. Com gola subida, deixa o corpo respirar e corta o vento. Semelhante a esta, mas com tecido ‘perfurado’); gorro da Decathlon (tapa as orelhas, protege do vento e transmite agradável sensação de calor); leitor de mp3; gel energético.

Antes da partida e durante o aquecimento, uma constatação: nestes dias de provas competitivas, as pulsações estão sempre acima do que é costume estar para as mesmas condições nos restantes dias. Estou a crer que, por mais provas em que participe, será algo que nunca mudará.

Aquilo que foi preciso enfrentar. A amarelo, as subidas tramadas ou as zonas onde o vento estava terrível. A verde, as descidas porreiras ou as zonas onde o vento empurrava pelas costas.

X MILHAS GUADIANA DIFICULDADES

A história da prova foi assim. Dada a partida, tentei fazer os primeiros 2,5Km nuns confortáveis 5:30min/Km. Depois disso seria necessário enfrentar a grande subida de Ayamonte (primeiro traço amarelo), a tal que passa junto do Mercadona e da bomba de gasolina que costuma estar cheia de carros portugueses. Acho que me dou bem nas subidas mais exigentes. Pelo menos deu para ultrapassar vários que teriam começado mais rápido e que quebraram com aquela inclinação. Depois disso veio uma descida valente (primeiro traço verde) que deu para fazer a cerca de 4:20min/Km. Ou seja, forçar nas subidas, aproveitar as descidas ao máximo para andar depressa e nas zonas planas, tentar acompanhar os grupos que estivessem perto de mim para me proteger do vento.

O segundo traço amarelo representa a zona mais difícil da prova. O vento estava muito forte e dificultava o andamento. Correr sozinho seria uma péssima opção, por isso tentei ir junto de um grupo. O vento vinha de Norte, ligeiramente oblíquo à ponte, contra a direcção da corrida. Por isso, a estratégia seria manter-me à esquerda e ligeiramente atrás de alguém. Uma operação que correu bem durante grande parte do tabuleiro da ponte, mas que depois tive de interromper pelo facto de seguir tão encostado ao tipo que estava à minha direita e que lhe dei vários encontrões no braço.

Entrada em Portugal, abastecimento dos 9Km e ingestão do gel para ver se tinha força para o resto. Saída da Via do Infante, entrada na EN122 e toca de aproveitar a descida até Castro Marim e o facto do vento forte estar pelas costas. A correr a 4:40min/Km aos 11Km? Weeeee! Loucura. Aos 11,5Km, quando faltavam 6Km para o fim, vejo que vou com 60min de corrida e que sigo a cerca de 5:20min/Km, sendo esse o ritmo que tentarei aguentar até ao fim. Contas feitas e descubro que já não daria para acabar a prova em menos de 90min. Paciência. Depois de Castro Marim vem uma zona plana que parece nunca mais ter fim. Vamos com 14Km, os holofotes do estádio parecem estar mesmo ali, mas a sensação é nunca mais lá chegamos. Cansaço, é o nome que se dá à coisa.

Entrada em VRSA e último esforço para reagir aos poucos aplausos dos poucos que estavam na rua. Uma coisa que sempre achei desmotivante: chegar perto do final da prova e começar a cruzar-me com aqueles que já a terminaram há muito tempo e que já vão a caminho de casa. Entrei no estádio e dei a voltinha da praxe já sem postura de corredor, assim mais a arrastar-me e a abanar por todos os lados. Nem sequer arranjei forças para ficar bem naque estava a ser feita pela melhor claque do mundo. Mas acabei. Estava feita.

O ano passado tinha feito 17,3Km em 1:39:06, a um ritmo de 5,43m/Km. Este ano retirei cerca de 8min mas não consegui baixar de 01:30:00. Tendo em conta tanta incerteza e falta de confiança com que enfrentei a prova, foi um resultado muito positivo. E o gozo que se tem ao participar numa prova desportiva é único. Uma sensação fantástica que nos faz querer fazer mais e melhor, que nos empurra para transpor limites que julgamos insuperáveis. Para o ano, espero lá estar outra vez e conseguir fazer melhor, pois claro.

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11 respostas a X Milhas do Guadiana – 2012

  1. Jorge Goes diz:

    excelente prova, foi muito bom se levarmos em conta as dificuldades com que te tens debatido em termos de lesões, os campeões não são apenas os que chegam em primeiro, são todos os que lutam diariamente para poder treinar contra lesões e falta de apoios.
    ser 451º ou outra posição qualquer é uma questão menor.

    parabéns

    abraço

    • Obrigado Jorge. Ainda ontem tinha passado lá na tua ‘casa’ para ver se havia novidades, já que o último post não previa boa coisa para a maratona. Pois aquilo fez-se sem queixas nos gémeos ou noutra zona, o que, me deixou deveras espantado. E hoje, estou apenas com umas dores na frente da perna direita, mas que são apenas resultado do esforço e passam com uns treinos leves. Quando fazemos uma corrida assim, sem queixas musculares durante a prova e sem sinal de estrago posterior, sentimo-nos mesmo bem, porque acreditamos que é possível voltar a correr como corríamos antes da lesão. O problema é mesmo a fase de recuperação das lesões, que é demorada e nos tira grande parte da confiança

  2. Fernando diz:

    Acredita em ti.. arrisca e deixa ir..
    Algumas provas são feitas em passeio.. outras em objectivo 🙂 força nisso !

    Boa prova e evoluçao muito positiva !

    • Obrigado Fernando. No treino que tinha feito 2 dias antes, de 10Km, eu fiquei a achar que se fosse a um ritmo mais rápido quebraria e não chegaria ao fim a correr. Por isso tracei um primeiro objectivo de correr devagar nos primeiros Kms. Só que, no meio de tantos a correr, é difícil não entrar em euforia e vontade de competir. Comecei a ir mais depressa, aguentei-me – com grande surpresa – e já estavam feitos uns 14Km. Depois disso era arrastar-me para o estádio e assim foi 🙂

  3. Parabéns! E com um tempo melhor do que o ano passado e tudo, apesar dos contratempos e intempéries.
    Para o ano será sempre a melhorar.

    Boas corridas!

    • Obrigado Correcomoumamenina. Todas as provas são diferentes, seja pelo traçado, seja pela forma como tudo se passa nesse dia, mesmo nas que repetimos. Pode ser o tempo a prejudicar, pode ser uma indisposição, pode ser um cansaço inexplicável, pode ser mesmo uma má escolha da roupa que se leva. Esta foi daquelas que, mesmo com vento a prejudicar, me deu um gozo enorme fazer. Já a Meia Maratona EDP, que fiz em Março deste ano, foi daquelas que detestei pelo cansaço e pelo calor que tive no último terço

  4. Esta prova é das minhas favoritas. Do meu Top 10, ou mesmo Top 5, mas a distância e as dificuldades que ela representa (tempo e dinheiro) não me têm permitido ir, e este ano mais uma vez…perdi-a…

    • Ana, este ano pensei que fossem esgotar as 800 inscrições pelo facto de ser uma semana depois da Maratona do Porto (o ano passado foi no mesmo dia). Mesmo assim, coincidiu com a Meia Maratona da Nazaré, que é prova do agrado de muitos. Tivémos 605 corredores, menos uns 40 que no ano passado.
      Essas dificuldades vão ter cada vez mais influência em quem gosta de ir aprovas desportivas. Mesmo as que são ao lado de casa podem ficar excluídas só porque a inscrição são uns 20€. Pior ainda quando se pensa em participar em provas onde é preciso fazer muitos quilómetros para lá chegar. Para poupar na dormida, é preciso sair de madrugada, com todo o cansaço que isso provoca. Depois, equacionar se dá para poupar as portagens. Mas do consumo de gasolina ninguém nos livra. Por causa disso, as minhas escolhas vão ser cada vez mais nas provas aqui perto, as quais, infelizmente, são muito poucas. Terei uma Meia Maratona em Ayamonte, um triatlo longo em VRSA, um triatlo sprint em Quarteira e mais um triatlo longo em Ayamonte. Tudo o resto que esteja acima da serra do Caldeirão, terá de ser muito bem equacionado

  5. CalimeroVerde diz:

    Caraças, a ler o post do princípio até ao fim e desapontado pois não encontro nada picante digno do dorsal “69”. Os meus parabéns pela evolução…

    • 🙂 CalimeroVerde, diz-me quanto jogadores de futebol é escolhem o nº 69? Será que a UEFA proíbe? Eu acho que é embirração com o número. E um tipo vai a correr e nos poucos que aplaudem na rua, ainda há quem diga. “Olha o 69!”, assim como se fosse algo estranho. Mas porquê? 🙂

      • CalimeroVerde diz:

        Bem, algumas competições oficiais podem exigir que a t-shirt vá só até ao máximo de números inscritos na equipa. Mas também já não deve haver muitos jogadores que nasceram em 69 pois isso não se escolhe esse número.

        E não é embirração é conotação. “Olha Maria, quem me dera que o meu José gostasse de vez em quando de fazer qualquer coisinha como o que ali vai a correr irá fazer quando chegar a noitinha. Que seca, é sempre o raio da mesma posição” Pois, já se sabe, em qualquer corrida até 70 pelo menos há sempre um 69 e todos olharão sempre para ela/ele com uma pequena risadinha entre dentes. A não ser que se faça à japonesa que proíbem o 13 nos andares.

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